Humanas

FILOSOFIA - PROF° NELSON HANAQUE (2° ANO)


                                  A LIBERDADE
“Uma pessoa pertence unicamente a si mesma. Ela é um ser livre com direito inalienável de autodeterminação.”
(Elizabeth Haich)

Nascemos livres. Entretanto, sociedade e nó mesmos criamos mil cadeias para nós. Mas, dentro de nós, dependendo de nossa própria vontade, podemos ser sempre livres, mesmo que aprisionados por grilhões.
Se a liberdade é uma ânsia tão profunda de nosso ser, ela não significa como tantos pensam fazer qualquer coisa, como , quando e onde quiser, Isto tem outro nome: licenciosidade. A liberdade liga-se ao poder de decisão, de escolha. Este é o bem precioso que não conseguimos admitir que alguém nos tirasse.
Todos temos um projeto fundamental de vida. E queremos ser livres para realiza-lo. E é na sua execução que exercitamos a liberdade porque o caminho sempre terá percalços, encruzilhadas, nos obrigará a renúncias, enfim, nos dará mil oportunidades de decidir o que fazer para perseguir o ideal. Parece contraditório, mas muitos homens a liberdade. Não sabem o que fazer com ela. Preferem ser escravos. Isto porque o outro lado da moeda chama-se responsabilidade.
A liberdade é espaço de vida, um espaço em branco, onde devemos agir, querer, pensar, realizar. E isto assusta a muitos...
A liberdade é reconhecida, atualmente, não só como um principio de valor fundamental tanto moral com politicamente.
Ela não pode estar separada da ética, sobre a qual já falamos, pois a ética existe em toda parte onde existem escolha e querer.
A liberdade é a verdade existencial e o tema central que comandam a vida ética em sua integridade. É quando o individuo está mais exposto do que nunca a insegurança do singular, porque entra mais profundamente no seu interior insondável e na solidão da escolha e do compromisso: coloca-se apenas diante de si (e de Deus...).
A dinâmica da vida é, pois, a dinâmica da subjetividade substanciada na liberdade.
O sentido mais profundo da questão da liberdade é que se, ela não existisse, o homem se misturaria com a natureza, não se diferenciaria das coisas, pois estaria inteiramente submisso ao determinismo. Ser-sujeito é ser-livre: somente com base nesta idéia é que se pode entender a liberdade da ação humana e discutir-se este tema.
O homem pertence a si mesmo, é um eu, uma pessoa; por conseguinte, só pode ser compreendido como autônomo, com certa independência de ser.
É lógico que não existe e nem pode existir uma liberdade absoluta, porque o sujeito não é uma subjetividade isolada: o “eu” se opõe em relação, existe, é intencional, é situado. Como autoafirmação, o “eu” é a positividade do ser.
Sartre exprime a prioridade da ação humana e, portanto, sua liberdade, por sua caracterização do existencialismo: “A existência precede a essência” (cf. bibliografia, in vita, Luis). Ele conclui que o homem é o que faz de si mesmo (já que não acredita em suas forças superiores...). Analisando com lógicas, veremos que o filósofo não deixa de ter razão, pois o homem não é uma coisa e, portanto, há uma prioridade de sua subjetividade, que implica, logicamente, a liberdade o livre-arbítrio.
Para ele, o mundo real da liberdade se distingue do mundo sonhado. Isto porque, segundo ele, toda fixação livre de fins realiza-se numa situação particular e toda escolha se faz em função de certo passado. O sujeito, como liberdade, só ocorreria, pois, envolto em uma determinada facticidade, que representa as limitações para o projeto de vida.
Ser livre nem sempre significa alcançar o ideal, mas autodeterminação para querer e escolher. Daí se conclui que o filósofo concebe o sujeito como intencionalidade, assim como livres os seus projetos, execuções e ações.
Toda escolha é uma decisão sobre opções diversas dentro de certas circunstâncias. A ação livre do homem, significando que ele sabe o que faz, supõe que essa ação precede uma decisão.
Agir humanamente implica agir com liberdade, assim ela vai nos aparecer, também, como um dever, algo que, de qualquer forma, deve ser conquistado para que sejamos plenamente humanos.
Como transcendência, pois da forma que já colocamos anteriormente, o “eu” é liberdade, rompendo o determinismo do cosmo, enquanto nada determina a ação como humana.
Aliás, o homem só pode realizar a sua humanidade quando luta por se desfazer do peso de qualquer facticidade que o escravize. A história da conquista da liberdade é eterna porque sempre uma forma de libertação faz surgir novas formas de escravidão.
Pra Marx, é o trabalho que faz o homem ser homem. E isto acontece de fato, exatamente porque é no trabalho que o homem torna sua atividade objeto de sua consciência e vontade.
 A tecnocracia, característica de nossos dias, é uma séria ameaça á liberdade. A técnica é um bem ”em-si”   para o homem, mas a tecnocracia o escraviza. Ao falar nela, Heidegger chamou a atenção para o “esquecimento do ser”. A mentalidade tecnocrática cria novas formas de escravidão. E, como vivemos em uma sociedade tecnocrática, este é um tema que merece bastante reflexão. Até onde a técnica está a nosso favor?  Em que ponto começa a ter poder sobre nós? Se os meios de produção da própria técnica estão nas mãos de poucos, até onde seremos realmente livres? Mudar, entretanto, o poder de mãos não significa, necessariamente, liberdade, como pensava Marx, porque as novas mãos podem ser de indivíduos também sequiosos de poder, sem sentimento de fraternidade. A liberdade, portanto, do ponto de vista social, só pode ser filha do amor.
Gostaríamos de concluir com um “grito” de Tarkovski: “Ai de nós, a tragédia é que não sabemos ser livres - pedimos para nós mesmos, em detrimento dos outros, e não queremos  renunciar a nada de nós mesmos em prol do outro: isso significa usurpar nossos direitos e liberdade pessoais. Hoje, todos nós estamos contaminados por um egoísmo extraordinário e isso não é liberdade: liberdade significa aprender a exigir apenas de si mesmo, não da vida dos outros, e saber como doar: significa sacrifício em nome do amor.”

Perguntas para orientação de trabalhos
1. Liberdade significa todos fazerem aquilo que lhes apetece?

2. Qual o outro conceito estreitamente ligado á liberdade?

3. Em que a liberdade caracteriza a “humanidade” do ser-humano?

4. Você vê no mundo contemporâneo alguma ameaça á liberdade individual ou coletiva?

5. Por que a liberdade tem que ser uma conquista?

Sugestão
Leia o livro Educação – A revolução necessária (cf. bibliografia, in Teles, M, L. Silveira), e, seminário discuta a profunda ligação existente entre os dois temas: Educação e liberdade. Você poderá, através deste trabelho, compreender que a educação é um mecanismo que tanto pode criar homens livres, como escravos. É, portanto, um mecanismo importante nas mãos das classes dominantes.
Comente e debata as afirmações de Roberto freire, em seu livro Utopia e paixão: “Ser livre é um processo contínuo de ir à luta para garantir as conquistas já feitas e ampliá-las. É isso mesmo que parece ser a nossa liberdade: uma conquista, nunca um direito assegurado. (...) Então, ser livre é poder viver ampla e irrestritamente as próprias originalidades únicas, as nossas diferenças? Como? Fundamentalmente, no jeito de amar e criar.”


Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) (Câmara Brasileira do livro, SP, Brasil).

           Teles, Maria Luiza Silveira.
                    Filosofia para jovens: Uma iniciação á filosofia / Maria Luiza Silveira Teles. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
                     ISBN: 85.326.1668-2
                      1. Filosofia 2. Filosofia – Introduções 1. Título

96-0340                                                                                                                            CDD-101
                             Índices para catálogo sistemático:
            1. Filosofia : Introduções 101


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   FILOSOFIA- PROF NELSON HANAQUE (2 ANO)

                                                         
                           
          RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE                                                                                    
  "Como o finito poderia compreender o infinito, como o temporal poderia compreender a eternidade, como um fenômeno aparente compreenderia o ser eterno"  
   (Elizabeth Haich)

A história parece nos ensinar que o fenômeno religioso é específico do homem. Os atos considerados religiosos são os mais antigos no âmbito da espiritualidade. Precedem a própria arte e a filosofia. Algo assim só pode ser explicado como uma exigência profunda da natureza humana que não nos cabe nega, mas apenas tentar explicar.
Ao estabelecer seus primeiros contatos da natureza, o homem primitivo já vai  revelar certas preocupações que parecem ultrapassar o nível de suas necessidades práticas e imediatas.
As primeiras manifestações religiosas aparecem sob a forma de cultos a determinados "mitos" (seres, objetos, ou fenômenos). As manifestações artísticas mais primitivas parecem já demonstrar um caráter religioso.
Como diz Paulo Emílio Pimenta, em seu livro As origens do fenômeno religioso: " O primitivo sente o mundo como parte de si mesmo. Suas relações com o mundo não se regem pelas leis do conhecimento, pelas relações sujeito-objeto. O mundo não é objeto de saber e  reflexão, mas de integração e união, de que resulta um intenso intercâmbio entre homem e natureza, isto é, ao trazer a natureza para dentro de si, ao julgá-la parte de si próprio, O primitivo procura apoderar-se de suas forças e manipulá-las segundo seus interesses." Continuando, Paulo Emilio situa a necessidade religiosa de maneira belíssima : ”O homem desde o primeiro instante em que toma consciência de si mesmo, em que realiza as suas primeiras experiências de vida sente-se como ser frágil, deficiente, sujeito á fome, á dor e á morte. Sua situação no mundo é de luta constante e cruel para sobreviver, uma procura cheia de angustia, uma preocupação profunda ou algo melhor. (...) A incerteza, a angustia e o medo são sentimentos que nasceram com o homem e, até hoje, marcam sua existência. Bem depressa o homem toma consciência de que, mais que um senhor da natureza, é um ser limitado e dependente. Tal sentimento o acompanhará no decurso da história, servindo de tema para filósofos e poetas. Heidegger colocava no cuidado, que é angustia e preocupação, a própria essência do home. Nesta linha estão os existencialistas que, como Sartre, vêem no homem um ser desesperado cuja única saída é assumir esse desespero   sob forma de liberdade absoluta na escolha de seu destino. Parece-nos ser esta situação que tornou possível e explicável a religião. Limitação e dependência são os sentimentos fundamentais do homem diante do mundo, e a religião é a atitude em que se manifestarão”.
Pessoalmente, preferimos colocar a religião, ou melhor, o sentimento de religiosidade, em algo mais profundo: se o “eu” não é o absoluto, tem que haver um absoluto e a busca deste absoluto é inerente á nossa natureza humana e transcende as nossas necessidades materiais. O “eu absoluto”, de Fichte, e o “espirito absoluto”, de Hegel, ilustram a logica de nossa linha de pensamento e evidencia-se seram as qualificações do” sujeito absoluto”, tão fantásticas que acabam coincidindo com o que, tradicionalmente , se designa por “Deus”.
Muitos filósofos repelem a metafísica e, com isso, igualmente, a possibilidade da existência divina. Entretanto, outros há, como Descartes, que raciocinam da seguinte maneira:  “Se posso imaginar Deus como uma substância infinita, eterna, imutável, independente, onisciente e todo-poderoso, esta idéia não pode provir de mim. Somente uma substância infinita  poderia tê-la causado. Portanto, Deus existe” (cf. bibliografia, in Luijpen, w).
Sem desprezar todas as profundas especulações dos pensadores com relação a Deus e a religião, somos de opinião que não se discute Deus. Nós o percebemos, o sentimos, o descobrimos. Ele é uma experiência de deslumbramento, amor e consolação que, por motivos desconhecido, alguns experimentam e outros não. As religiões, com seus dogmas e rituais, advêm desta base de fé.
Como diz Fernando Pessoa;
“(...)
Onde nada está, tu habitais
E onde tudo está-eis o teu corpo.
Dá-me alma para te servir e alma para te amar.
Dá-me vista para te ver sempre
No céu e na terra,
Ouvido para te ouvir
No vento e no mar,
E mão para trabalhar em teu nome.”
Sem dúvida, não podemos retrucar que  a fé é filha do senso comum, que é que uma conhecimento natural, uma intuição. E daí? Quantas vezes a ciência passa da intuição? O senso comum é um conhecimento pratico e está diretamente ligado as nossas necessidades vitais. É o chamado bom senso, em que o “eu” encontrasse convicto.
Uma coisa é certa: a espiritualidade e a religiosidade são  o coroamento do pensar e uma das molar mais poderosas do trabalho cientifico e filosófico. É preciso ouvir, com respeito, a própria natureza, as diversas especulações dos pensadores e suas testemunhas, que nos levam a reflexão.
No mundo contemporâneo, mais do que nunca, é importante encontrar a Deus em todas as coisas e no novo trabalho que caracteriza nossa era tecnográfica.
Dentro do que nos propusermos neste capítulo, é importante lembrar que, muitas vezes, a religião serve a neurose funcionando como fuga, resumindo-se em formulas e rituais sem sentido. Disso resulta uma vida vazia, sem uma esperança autêntica, sem profundidade e sem maturidade. Só a verdadeira religiosidade, que é uma atitude interior, pode trazer ao homem conforto moral, preservar os valores espirituais e desmitificar a morte, abrindo-lhe as portas aparentemente indevassáveis a percepção humana. A religiosidade verdadeira aproxima o homem de Deu, em toda sua plenitude. Ela impregna a vida com alegria, esperança e fé. Liberta-o do medo, da angustia e da solidão e ajuda-o a expandir-se. Ao crescer, em seu interior, o germe divino, o ser humano se torna homem no sentido pleno da palavra.
A religiosidade, pois é, uma autoconquista que ultrapassa a própria religião: é uma realização e uma convicção interior, plenamente consciente, que independente de formalismos e ajuda o homem  a emergir da rotina e encontrar a própria identidade, que se identifica com Deus.
Não poderíamos deixar nos referir, também, a outra função da religião dentro da sociedade: muitas vezes, ao longo da história, tem sido usada como instrumento de dominação, de domesticação, de castração dos homens, facilitando, assim o domínio e o poder de algumas classes.
RESUMINDO
- A necessidade da religião se apresenta ao homem desde que temos noticia de sua existência;
- Embora, hoje, a física quântica diz provar a existência divina por equações matemáticas, a percepção de Deus se dá, originalmente, pela fé;
- Religiosidade é algo que transcende á religião. É uma atituded interior, madura de ligação como o absoluto e de certeza do sentido e da beleza da vida.
PERGUNTAS PARA ORIENTAÇÃO DE TRABALHOS
1. Você acha que a religião é alienação ou uma necessidade humana? Explique os dois lados da questão.
2. O que impulsiona o homem para religião?
3. O que você acha da afirmação de Descartes que aparece no texto?
4. Dizer que a religião é filha do senso comum destrói o valor?
5. Qual a diferença entre religião e religiosidade?
6. Existe algum perigo na religião?
7. Procure se possível, o livro de Paulo Emílio Pimenta, As origens do fenômeno religioso, citado na bibliografia, e que é uma extraordinária preciosidade, e discuta seu conteúdo com o conteúdo do presente capítulo.
Procure comentar debater os seguintes testos de Paulo Coelho, de seu livro Maktub:
“ Somos seres preocupados em agir, fazer, resolver, providenciar.(...) Não há nada de errado nisto- afinal de contas, é assim que construímos e modificamos o mundo. Mas faz parte da vida o ato de adoração. Parar de vez em quando, sair de si mesmo, permanecer em silêncio diante do universo. Ajoelhar-se com o corpo e a alma. Sem pedir, sem pensar, sem mesmo agradecer por nada. Apenas viver o amor calado que nos envolve (...)”.
“Não adianta pedir explicações sobra Deus; você pode escutar palavras muito bonitas, mas no fundo, são palavras vazias (...). Ninguém vai conseguir provar que Deus existe, ou que não existe. Certas coisas na vida foram feitas para serem experimentadas- nunca explicada. O amor é uma destas coisas. Deus – que é amor – também o é.(...) Deus nunca vai entrar por sua cabeça – a porta que ele usa é o seu coração.”